As tuas palavras devolvem-me a embriaguez das âncoras, fazem-me lembrar aquelas paisagens antigas, aquelas do perfume recortado, onde te tomava, quando o silêncio nos protegia, quando a vontade nos controlava e tudo era mais profundo, tal como o mar, onde nos íamos encontrar. Apenas a sede pelo vento nos juntava um pouco mais, desde os tempos sem nome.Nada adiantava o esquecimento, quando o frio me vestia de todos os teus momentos e me aproximavam de ti, desde a serra ao mar, conseguindo encontrar a perfeição que depois se esvaia entre os dedos macerados pelo desgosto. Total tensão! Total agonia! Mar crispado, desentendimento, coligação das almas. Mitos do tempo sem data, gravados no tempo dos sons, da diferença, das ondas perdidas nos anseios das algas. Lembro-me do sabor das tuas palavras, das negas que me davas, dos segredos que guardavas, onde acendias maiores medos sem sentido. Tu acendias sempre todo o sentido e par o não sentido te lancei para sempre.O teu coração foi sempre uma pedra, todo o teu valor caiu da janela, a tua postura de estátua e esse róseo no teu rosto fizeram olhar-me de modo diferente… olhei ao teu quarto e recebi abraços de veneno… apenas folhas vazias, com lixo a mais. Sim, porque nunca foste a minha verdade, ainda que entendesse abandonar-te para sempre, sim, para sempre, porque foi isso mesmo que desejaste, ainda que te recorde, no fim dos tempos. O teu valor é não teres mais valor para mim.O jeito da saudade alterou o silêncio do olhar, fundiu-me na explosão fulgurante, entre o rio e os pinhais, nesta serra, onde esculpo o surpreendente dos aromas de Maio, enquanto te tomas nas peregrinações da senhora das flores. Flores de Maio, dos fios de ternura sem memória, do ouro, da fantasia recortada pelos flancos do silêncio, onde guardo a tua imagem, aquela que transportei para o esquecimento.
Porto, 14 de Maio de 2007 – 22:38h
Sem comentários:
Enviar um comentário