segunda-feira, 25 de junho de 2007

O TESOURO DOS TESOUROS

As tuas palavras recortadas pelo impasse da curiosidade, talvez da presença, com os teus juízos de valor, à tua medida, são as tuas palavras, é o que tu pensas, o que sentes nesse peito, nesse corpo, nessa forma de ser, de estar. E desse modo humilhas-me! Não me importo, sim, não me importo, porque não te consigo ganhar sentimentos maus. Naquele dia disse que acontecesse o que acontecesse, nunca te iria esquecer, fiquei por detrás da vidraça, no relvado irregular, escutando os teus rumores.Nestes dias últimos tenho pensado imenso em ti, apesar de nunca mais te ter visto, pois que seja obsessão, como dizes. É a minha… deixa! Pincelo com as palavras os quadros do meu interior, guardo na memória aquela tela, feita com amor, com carinho, tal como o primeiro abraço que te dei, tal como tudo o que para ti fui, desde o primeiro olhar.Como as coisas são… quando te conheci, achei-te horrível, sim, sem que tivesse nada a ver comigo, mas, o tempo passou e as conversas acentuaram-se e passei a ver em ti o ser mais lindo do universo, tal como ainda hoje o vejo.Abro a janela e contemplo a tua foto, as inúmeras fotos… aquela flor ficou partida, foi nas ondas do pensamento, tal como o primeiro beijo que pareceu estranho e toda a vontade de dar o outro a seguir.Relação do estádio estético, paráfrase de situação existencial… enquanto leio a tua realidade, enquanto bebo dessa imaginação criadora de universo, lembrando do que de ti bebi, escrevo verso a verso o que daquele tempo senti. Simplesmente lindo, qual forma dramática em sinfonia ao luar.Ouço Haendel que compunha as suas obras para a glória de Deus, eu componho tudo isto para ti, porque não acredito em Deus! Tenho os meus sentimentos nostálgicos, ainda que por vezes me sinta perdido, à deriva da própria realidade, mas sei que as saudades são sonho e o sonho definha lentamente.Leio Werther, passo para Nietzsche, folheio uma página, mais outra e a realidade é uma expressão de toda uma derrocada de situações, onde se está para poder entender melhor. Custa-me entender o teu carácter, apesar dos teus insultos… e falas da neve branca enquanto mudo a lamparina do quarto azul. Apenas sinto o que não te posso dizer, porque o sentido para dizer esgotou, fizeste com que ele esgotasse e o critério deixou de ser a comunicabilidade imediata. Como diria Platão, “os verdadeiros filósofos são os que amam contemplar a verdade”, neste caso, tu és a minha verdade! Chamas-me de louco, de imbecil, de acidente na tua vida, de tudo o que de mais baixo pensas… até ao ponto de me aconselhares ao internamento num hospício. Neste caso digo-te, evocando Espinosa, que “a imaginação é algo vago pelo que a alma padece”, e isso dizes perfeitamente nos teus belos quadros.A confissão de último momento que tenho para ti, é que gosto de ti, como nunca gostei de nada na vida. Apenas sei que não gostas de mim e que sou indesejável, inconveniente e que me reprovas. Já diria Montaigne que “não são somente as febres, as bebidas e os grandes acidentes que turvam o nosso juízo; as menores coisas do mundo o abalam”. Guardo-te como o tesouro dos tesouros no instante do sentimento.

05.02.2007 – 23:26h

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