sábado, 9 de dezembro de 2006

IMOBILIDADE DE IMAGEM

Imobilidade de imagem, memória desfragmentada... Samuel, o Ventoso, na Rua dos Nomes
A memória parece-me mais sólida quando as imagens pulsam, quando a sensibilidade toca a melodia desfragmentada, por vezes em volume elevado. Elevo a música para esquecer a vida e o desconcerto. Lembro a última carta que me enviaste, não vi nela nenhum brilho, nem razão de ser, apenas letras ao acaso, cheias de autoritarismo... mas isso é comum em ti. Não tenho dúvidas disso! Inventas desculpas para o corpo e colocas-me onde eu não existo, queres que assim seja, queres que seja aquilo que não sou. Lamento muitas vezes e fecho-me no meu espaço privado e não te digo mais nada. Não inventes mais por favor, pensa pela tua cabeça e deixa-te de palermices...
Olho as tuas imagens, é linda essa imagem que colocaste no telemóvel, não tenho palavras e as lágrimas que por vezes derramas, também me surgem... têm uma função específica como tudo na vida, limpam a vista e apaziguam o coração. A tua escrita também... temos isso em comum, contorna-nos o coração. Hoje sinto um misto de tristeza e nem me apetece sair de casa, nem proferir uma palavra daquelas, apenas fico comigo, só, como se nada mais no mundo existisse.
Palavras e lágrimas, esta dualidade, isto que aos poucos se derrama, por aqui, por ali e de muitas formas e por vezes não servem para nada, quando na maioria das vezes retemperam o ego. Estou sozinho, metido no meu mundo, fechado nesta casa, no meu quatro, apenas com o meu computador, os livros, nada mais. A música ouve-se ao fundo e o aquecimento está ligado. O telemóvel toca, não vou atender, mas o vazio continua a ser mais intenso... tal qual ontem à noite naquela conversa que tivemos no parque nascente, sim, enquanto tomávamos café. Fizeste-me pensar... fiquei com medo. Não sei o que fazer, mas é uma realidade. Tu tens outras capacidades que eu não tenho, por isso, certamente serei um anormal. Não era capaz de proceder desse modo e muitos fazem o que tu fazes. Não terei eu direito à vida? Interrogo-me todos os dias.
Sim, estou sozinho e nada espero, de ti muito menos, já vi o tipo de pessoa que és e com essa esquisitice não irás a lado nenhum comigo!
Lanço as palavras, grito e ainda profiro uma última palavra como se fosse a salvação da minha vida, mas tudo me parece cada vez mais vazio... são os olhares, os amores sem amor! Melhor será afastar-me para não incomodar ou sentir-me a mais. Vazios intempestivos tomam-me para uma tempestade maior! Olhares, e formas da vida como te disse, com o pulsar do coração, o meu despedaçado, sem mais concerto... estas são palavras e todas as outras palavras parecem-me não servirem para nada. E tu para que serves? E tu que dizes de tudo isto? Não dizes nada! Tudo o que digas não serve para nada, porque apenas desacreditei em tudo, em ti também. A possibilidade fechou e nada espero de ninguém. Continuas a escrever, tal como eu... escreves... enfim... Escreve porque serve de terapia. Escreve... farei o mesmo porque não tenho mais palavras para usar enquanto o meu corpo não explode.
A temperatura baixou, incapacita a produção da adrenalina nas minhas veias. A roupa não me permite muitos movimentos e o horizonte é uma linha de sonhos vazios que encerra o meu sorriso. Assim passa a vida, onde de tudo o que resta são poeiras, sem que a razão sirva para alguma coisa e o jogo é sempre o da verdade e da mentira, num recado sem conteúdo, impróprio, como a maioria das pessoas, apenas imobilidade de de situação imagética.

Porto, 09 de Dezembro de 2006 - 17:23h
Samuel, o Ventoso

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