Não poderás entender aquilo de que não falo, o invólucro da palavra sustenta o intemporal, transporta-me ao princípio, íntegro, total, ao lugar sem movimento, onde nada quero. Todo o meu querer é uma luta de estilhaços, onde me rendo ante os disparos da revolta. Olho-te apenas e não digo nada, apenas todos os nomes me ocorrem à mente, fruto do constante desespero onde caminhas.
Tenho a minha experiência, tu a tua… temos a nossa, não pode ser outra. Apenas sinto que os rituais comuns não me preenchem, pouco me edificam e o valor que houvera aplicado a alguém apenas foi mentira, consciência de lugar impróprio. Esse modo de ser fez-me desacreditar em ti, corrompeu as minhas intuições, passando-me uma vez mais um atestado de burrice!
Falei do teu corpo, do invólucro, apenas foi um sonho de fantasmas, num abraço de profunda ingratidão.
Essa maneira de ser sempre foi falsa para comigo, ainda que te lamentasses constantemente pelo teu pessimismo.
A tua consciência sempre foi um interesse por sentimentos intuitivos e construção de sentimentos de carneiro mal morto.
Esse choro não serve para nada, apenas para enganar e para que tenham pena de ti. Coitado de quem espera afecto de quem é ingrato, de quem liga só por interesse, prometendo o que nunca cumpre.
Não te prometo nada, dispenso o teu olhar porque é falso, não que esteja a falar mal, apenas a desabafar. Muitos são os meus desabafos, pela geometria das palavras, sem que precise dos teus abraços porque são falsos e muitas vezes penso na morte como o único consolo, o real de tudo o que é pelo seu fim último.
Dou comigo a valorizar o que não presta, agora sinto que me enganei, sinto que o tempo transformou as situações e as histórias da vida são gigantescas emoções. Histórias… algumas sem significado face à luz de todos os instantes.
Vim ao café, o cenário do costume, copos e tabaco, aquelas conversas da treta, triviais, coscuvilhice, as tias ali, acolá… tudo isso nada me diz, apenas me enoja. Apenas sinto saudade, essa irremediável, pela exclusão das partes da validade.
Porto, 17.12.2006 – 23:52h
Samuel, o Ventoso
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